terça-feira, 30 de dezembro de 2014

O outro


Difícil começar alguma coisa que tenha como título "O outro". Nunca é fácil ver da ótica alheia. Nunca é fácil  entender as motivações de quem que não seja eu. Difícil  sensibilizar-se com algo que não tenha relação direta com meu eu ou minhas vontades. Eu preciso me amar primeiro para entender o sofrimento do outro.

Essas máximas permeiam a nossa sociedade. O eu é sempre mais importante do que qualquer outra palavra. O que EU gosto, onde EU vou chegar, o queEU quero ser da vida, o que EU gosto em alguém, o que EU posso conseguir com tal amizade, e se EU for voluntário, e se EU montar uma ONG, e se EU for bastante inteligente. O eu, está em tudo, porque tudo em nós é vaidade.

Lembro de ver uma entrevista com a cantora Claudia Leite, quando seu primeiro filho nasceu, ela dizia ao repórter  orgulhosamente, que nunca antes havia feito nada a um ser humano tão desinteressadamente. Não quero fazer juízo, mas não seriam os filhos nossas maiores demonstrações de desapego? Não seriam eles motivo de fazer de um tudo. Parece temeroso dizer que nunca antes nada foi feito com desinteresse. Talvez tenha sido apenas uma afirmação infeliz.

"Para cultivar uma atitude altruísta,
um meditador aceita o bem-estar
 dos outros no coração e reflete repetidamente
os benefícios de se importar com eles e
 tratá-los com carinho" - Dalai Lama
Estamos todos os dias nos afastando do outro, buscando nele apenas objetos de satisfação, escadas de acesso e "o mal" necessário. É preciso conviver, é preciso engolir, é preciso fingir, sorrir e dissimular, bajular ou não chego onde quero. Digo mentiras para promover planos arquitetados. Aturo o outro porque sem o outro não há vitória e não há contatos.

Raro é conversar com alguém totalmente desinteressado, atento e preocupado de fato com os nossos sentimentos e nossa vida. As pessoas se aproximam apenas quando há alguma vantagem em se aproximar. Enquanto somos úteis, a amizade é importante, deixando de ser, nos tornamos descartáveis, mais uma no rol dos descartáveis. Não há sentido em se sentir injustiçado ou preterido, apenas resta a certeza de que assim são alguns seres humanos, dotados da incapacidade de enxergar além de seus desejos, além de seus planos pessoais. E esse sentimento é tremendamente libertador. Não há expectativas, apenas determinação.

Mas qual não foi a minha surpresa de encontrar em pessoas improváveis e "anônimas", quase invisíveis, grandeza e solicitude. Um amigo de verdade, te socorre quando a multidão te dá as costas. Olha para você e diz, o se valor é inestimável. Não há interesses para essa pessoa. Esse tipo de pessoas vê além, sabe mais e tem um horizonte maior e mais amplo.

Tudo talvez em algum nível nos joga para a maldita vaidade, todos nós estamos sujeitos a ela. Mesmo essas palavras devem estar carregadas de vaidade, eu poderia simplesmente aprender a lição e viver melhor. O que me impeliu a dividir uma reflexão como essas publicamente? Talvez o desejo de partilhar uma experiência e ser útil. Ou simplesmente a vaidade de expor o que penso. Vai saber.....

Mas o fundamental não é pensarmos se somos ou não vaidosos, porque a resposta será sempre afirmativa, mas sim o que nos fará subir um degrau da evolução humana é  lutar para que os nosso atos a cada dia sejam menos preocupados com o êxito e com os ganhos pessoais e mais muito mais em favor do outro, dos outros, do coletivo, do mundo.


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